Escrevo esse texto no dia 2 de junho de 2013. A chance de esse meu texto ficar obsoleto daqui a alguns poucos meses é enorme. Aliás, esse é um risco que pessoas como eu correm. Pessoas que se interessam em pesquisar a cultura digital e tentam entender como se dão essas novas lógicas sociais e de consumo. Mais que isso, minha principal inquietação hoje é entender como se dá a apropriação social de dispositivos, tecnologia e marcas nesse ecossistema que habitamos. Eu assumo esse risco. Não me importo. Vamos lá!
Nesse universo hiperconectado em que nós todos estamos inseridos, a tecnologia se torna uma metáforas mais sedutoras para entender a construção das subjetividades das pessoas hoje em dia. As pessoas com as quais vivemos e interagimos, fundamentalmente os jovens, percebem e assumem as relações com os outros como uma experiência norteada pelos afetos e pela sensibilidade. E dentro desse mundo difuso, não-linear e de relações complexas, repousa um indivíduo cada vez mais conectado. Muito conectado. São os ONdivíduos.
Ao mesmo tempo em que as pessoas estão cada vez mais conectadas, elas estão cada vez mais individuais. Individuais mas cada vez mais conectadas e digitando furiosamente em telas sensíveis ao toque o tempo todo. O fato de eu estar conectado não significa que eu estou interagindo. Muito pelo contrário. Conectividade é hoje estar simplesmente logado. Mais que isso, a partir do momento em que faço um simples login em um site de rede social, estou fazendo parte da intimidade de pessoas, sabendo o que eles pensam, dizem, ou como pretendem se apresentar e obter alheias validações de seus afetos. Aliás, o que há de social nos sites de redes sociais? Pra mim, muito pouco. O Facebook nada mais é que uma arena virtual onde mais de 1 bilhão de terráqueos tentam construir jogos discursivos e narrativas envolventes a fim de que outros usuários tomem conhecimento e validem a bel-prazer aquele manancial de conteúdos emocionais.
Ao mesmo tempo em que esse mundo conectado é sedutor, ele é assustador. Ao mesmo tempo em que essa nova cena digital é magnética, ela nos afasta uns dos outros. Há autores que dizem que a arena online é tão atrativa e convidativa pelo fato de ela não ter as exigências do mundo real, do mundo offline, da nossa vida aqui e agora. Sou obrigado a concordar um pouco com isso. A vida hoje em dia nos impõe muitas exigências e obrigações sociais que não necessariamente estamos a fim de cumpri-las naquele momento, naquela hora, naquele instante. Dar parabéns para amigos aniversariantes implica em termos que ligar para pessoas, gastarmos dinheiro e tempo com ligações telefônicas e, às vezes, conversarmos com pessoas que não estamos necessariamente com vontade de falar naquele dia. No Facebook, por exemplo, escrevemos aquelas mensagens (supostamente sinceras e profundas) e em frações de segundos todos já estão devidamente parabenizados. Pronto. Simples. Rápido. Afinal, somos ONdivúduos.
Internet das Coisas, Big Data, Cultura da Convergência são apenas exemplos de felizes expressões criadas para rotular essas transformações que impactam nosso dia a dia. E quando analisamos a fundo as potenciais transformações que estão por vir, eu fico um tanto quanto apreensivo, mas meio assustado. Fico animado, mas um pouco perturbado. Do que a tecnologia é capaz de fazer? Tudo? Fala-se que, num futuro próximo, quando estivermos nos aproximando de nossa Starbucks favorita, eles já saberão que estamos chegando perto e o nosso café (do jeito que gostamos) já começará a ser preparado antes mesmo de a gente entrar na loja. Quartos de hotéis em Las Vegas já personalizam as luzes, o som e a claridade da janela em função das preferências do hóspede, antes mesmo de ele chegar ao andar. E olha que o Wi-Fi, um dos mais potentes amálgamas que unem todas as essas coisas, tem apenas 10 anos de vida. Muito em breve, nosso smartphone irá sabiamente nos alertar que corremos o "risco" de nos depararmos com uma ex-namorada que está vindo na rua em nossa direção e poderemos sagazmente desviar daquele caminho. Muito prazer. O mundo está interligado e nós somos os ONdivíduos.
Redação AdNews