A virada da mídia

Ao desaparecer recentemente do mercado de mídia um jornal de qualidade como o “Financial Times Deutschland”, isto significou apenas um sintoma especialmente claro de uma mudança estrutural da opinião pública, que se consuma em diversos níveis e transforma toda a nossa existência social. Os jornalistas têm de dividir a atenção dessa opinião pública com “repórteres” amadores e blogueiros: jornais gratuitos atendem à expectativa de que as infor­mações devem “fluir livremente”; e muitos jovens cultos informam-se exclusivamente on-line, pela internet.

Felizmente, a maioria das editoras alemãs não reage de maneira conservadora a esta virada da mídia, mas reconheceu que o fim do jornal impresso não significa necessariamente o fim do jornalismo. Quem examina hoje as grandes editoras, constata imediatamente que os redatores da internet não apenas sentam-se, com direitos iguais, ao lado dos jornalistas tradicionais, mas são os que determinam os rumos. Porém, aonde nos leva esta viagem?

Para responder a esta questão, não podemos nos restringir a analisar os sintomas, mas temos sim que buscar mais fundo – na relação das pessoas com as técnicas da 
mídia, transformada através da revolução digital.

Técnicas que são apreciadas – esta é a grande nova tarefa do DESIGN. Quanto 
melhor ela for cumprida, tanto mais as tecnologias modernas se incluem no enredo 
da vida cotidiana. E assim, a técnica nos envolve cada vez mais. A mídia que pode ser vestida como roupa, funcionando como assistente de informação, mostra muito bem como o COMPUTADOR se transformou de caixa preta a peça de vestuário e, finalmente, a aparelho implantado. Não os LIMITES do meu corpo, mas os LIMITES da minha mídia são os LIMITES do meu mundo.

A tecnologia da mídia também sempre é “social engineering”. Esta coevolução de técnica e sociedade leva a tecnologias socialmente inteligentes e comunicativas, a máquinas pessoais. Há muito já existem computadores portados junto ao corpo ou no corpo. Os aparelhos periféricos tornam-se aparelhos implantáveis. Dentro em breve, os robôs ganharão uma espécie de vida, isto é, eles agirão socialmente. E de maneira muito correlata, as pessoas desenvolveram um comportamento social frente à mídia.

Como no caso dos brinquedos, trata-se da formação de uma tecnologia “sociável”. Mas esta tarefa de DESIGN não diz respeito apenas à realidade da mídia, mas também a 
novos lugares que podem ser vivenciados fisicamente. Podemos falar de ambientes inteligentes, desde que o microcomputador invadiu o nosso dia a dia. Hoje, já interligamos em rede inúmeros objetos cotidianos, a fim de mantê-los sempre sob controle. Não apenas as pessoas estão on-line, mas também os seus artefatos. A própria reprodutibilidade técnica através do CINEMA e da televisão sugeriu o acesso igualitário ao mundo para todas as pessoas. Nós demos então o passo seguinte através da simulação, que possibilita aos muitos uma vivência, que lhes teria sido impossibilitada em virtude de serem muitos. A realidade virtual é a extrema consequência do conceito moderno de realidade: o mundo como simulação. A mídia digital nos oferece a realidade como uma obra de arte abrangente, uma filosofia vivenciável do “como se fosse”. O DESIGN de interligação do mundo digital fez desaparecer a interface do usuário ou, pelo menos, ele a legou ao esquecimento. Com isto, na relação das pessoas com a técnica, nós chegamos então ao polo contrário da contemplação – à imersão.

O COMPUTADOR e a cibernética foram a resposta para a crise de controle provocada 
pela Revolução Industrial. As redes sociais dão hoje a resposta à crise de controle, que foi provocada pela globalização. O problema se chama complexidade – e não se pode mais resolvê-lo através de maior formação profissional. Seu lugar foi ocupado pela modularização da inteligência como prestação de serviços e pela cibernética como ciência de administração. Quando não se pode mais gerenciar os complexos sistemas da sociedade moderna através da razão, então surge a pergunta, se a razão pode ser substituída pelos algoritmos. Desde que o livre fluxo de informação tornou-se mais importante que todas as questões de matéria e energia, ele não é mais gerido por filósofos ou outros especialistas, tendo sido desligado do projeto do Iluminismo. Porém, quanto mais volumoso se torna este dilúvio de informações, tanto mais necessária se torna uma prestação de serviços, que se poderia denominar de serviço dos sentidos. A riqueza de informação e a pobreza de atenção são os dois lados da mesma MOEDA. Hoje não é mais a informação que é escassa, mas sim a orientação. Ininterruptamente nós emitimos, recebemos, armazenamos e manipulamos informações. Estamos envolvidos na comunicação mundial. E o imperativo categórico da nossa existência é o de que temos de ser contatados sempre e em qualquer lugar.

Trabalho ambicioso é sobretudo o da comunicação, que entretanto se pode fazer e emitir de qualquer parte do mundo. Por isto, para não se afogar no dilúvio de informações, necessitamos de técnicas de seleção, filtragem e avaliação. Nós sabemos entretanto que a inteligência não é outra coisa que uma técnica de busca e que a inteligência artificial é estruturada através de algoritmos de popularidade. Desde que o espaço da informação é tão grande como o mundo e toda a população mundial participa da 
comunicação digital, não se pode mais diferenciar a busca da criatividade. A inteligência não surge mais aqui através dos pro­gramas, mas sim através da comunicação. Foi consumada uma mudança de paradigmas: lógica da rede, em vez de inteligência artificial. Todos os setores do conhecimento e da vida são dominados pela organização própria dos leigos, que passou a concorrer com o conhecimento dos especialistas. Nossa filosofia é a sabedoria dos muitos. Todos juntos são mais sábios que um só.

Por isto, é preciso que se atualize a famosa frase de Marshall McLuhan, segundo a qual “o meio é a mensagem”, precisando-a: a rede é a mensagem. Os cidadãos da rede já 
não se interessam mais apenas pela mídia da informação, mas interessam-se principalmente pela mídia do relacionamento. Com isto, as redes de mídia podem ser reconhecidas como sendo áreas de produção 
de uma nova riqueza social. A mais-valia 
de que se trata neste caso é formada nas ações características da mídia social, de compartir, oferecer e interligar. Assim, a técnica e o social se interpenetram na comunicação. Poderia falar-se também de um consumo de relações.

A novidade destas novas mídias é constituída sobretudo pelo fato de que o seu conteúdo é produzido pelos seus próprios usuários. Nenhum futurólogo teria podido prognosticar que os blogs criariam uma 
nova forma de publicação, na qual todos constituiriam um público recíproco. A publicação sem barreiras tornou-se hoje uma questão banal. As novas técnicas de mídia não são tanto uma ferramenta, mas muito mais um processo. Os usuários transformam-se em programadores e no processo da utilização, a mídia é permanentemente redefinida. O lugar da recepção é assumido pela participação. Desaparece não apenas o autor, mas também o leitor. É, por isto, característico das novas mídias que primeiro seja publicado e só depois filtrado. A isto soma-se o fato de que já não existe mais obra. Em todas as partes impõem-se novas técnicas culturais, que aniquilam a CULTURA da galáxia de Gutenberg: cut & paste, link & tag, copy & remix.

Uma expressão em moda na nossa época é “cloud computing”: a produção gerada no COMPUTADOR como um bem público. De fato, os militantes do setor consideram a internet com um bem público por excelência. Para entender seu dinamismo e seu potencial criativo, é preciso que se compreenda tratar-se aqui da formação de um capital social. Este capital social é constituído de 
interligações, relacionamentos e posições. Quem deseja falar de forma sensata sobre justiça social, não deve mais deixar-se ofuscar pela “questão social” do século 
19. Temos de conceber o novo Social, que se forma hoje através dos processos de auto-organização nas redes. 


Por Norbert Bolz, publicado originalmente no Deutschland.de.
Redação AdNews



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