A publicidade sob abrigo da discordância


Depois de um bom tempo ausente dos olhos da população de São Paulo, a mídia exterior volta a dar seus primeiros passos com a reintrodução dos abrigos de ônibus, contendo mensagens publicitárias. Os também chamados bus shelters pelos publicitários do setor de mídia vieram com um novo formato arquitetônico que apresenta beleza, harmonia e leveza de formas, e problemas também.

Aparentemente, o primeiro deles é a fragilidade. Todo envidraçado, esse elemento da paisagem urbana tem uma aparência contemporânea, pós-moderna e clean, mas em breve pode ser vítima do vandalismo e da depredação, hábitos muito comuns nas grandes cidades como a capital paulista. Além do que, os vidros espessos devem ser uma tentação para aqueles meliantes, ávidos por matérias-primas caras e que podem compor a arquitetura de outras paisagens domésticas. E tem mais, num choque com veículos há quem tema que o vidro partido possa também ferir os usuários logo abaixo.

Num desses novos pontos de ônibus, já ouvi críticas de transeuntes, quando argumentaram que se trata de um mobiliário urbano incompatível com um país que ainda não é rico para algo assim tão majestoso. Será? Outro popular ali no local falou que os novos abrigos próximos aos estádios de futebol vão ser presa fácil de torcedores fanáticos revoltados com o placar do jogo.

Outro ponto: esse ponto repaginado tem um problema funcional muito interessante. O vidro da cobertura apresenta uma tênue camada protetora com frisos em material translúcido, o que significa que o passageiro é obrigado a tomar mais sol do que gostaria nesses dias de verão sahárico.  Em comparação com a versão anterior há outras considerações. O antigo é bem mais parrudo e mesmo assim as telhas plásticas do anterior eram frequentemente arrancadas, sabe-se lá para quê?

Mais uma perspectiva arquitetônica a comentar é o banco de passageiros. Produzido com um material que parece uma prancha de cimento polido, parece acumular mais sujeira que o modelo anterior de aço. Além disso, a ergonomia do banco do novo abrigo não é confortável e a relação entre o encosto e assento lembra aquela mesma dos ônibus antigos, ou seja, bem desconfortável.  O sujeito fica com o tronco bem ereto e sem um encosto inclinado para apoiar as costas. É fato que a parte trazeira apresenta a graça de treliças assimétricas estilosas (que por sinal ainda não receberam a devida pintura). O desenho pode até remeter àquelas instalações artísticas que são expostas nas bienais, mas sem deixar de puxar na memória a comodidade daqueles bancos comuns de madeira que a gente senta em churrascos ou festas juninas.  A cadeira anterior ainda que não fosse uma poltrona diretor era envolvente e deixava o usuário mais à vontade para ler ou esperar seu “busão”, mesmo sendo metálica, fria e com um grosso cilindro servindo de encosto.

Parece que no modelo anterior de abrigo havia mais preocupação com conforto, não apenas com a aparência e estética, e sempre é bom destacar que os arquitetos costumam proclamar que nem tudo que é belo é necessariamente funcional.

Sobre a publicidade em si, a solução do display luminoso parece adequada porque a imagem é ampla, perpendicular, ou seja, bem melhor posicionada que no abrigo anterior, onde os backdrops ficavam nas costas dos passageiros. Agora as mensagens podem ser vistas facilmente, com a possibilidade de os títulos serem lidos de uns 20 ou 30 metros tanto pelos passageiros de veículos como pelos passageiros de dentro e fora dos ônibus. Entretanto, há quem critique o painel como obstáculo à mobilidade de cadeirantes e pessoas com dificuldades motoras, como o fez um jornalista amigo meu. Outros supõem que o luminoso servirá com um escudo para meliantes atacarem à noite os indefesos esperadores.

Adequados ou não, o novo bus shelter é muito bem-vindo para o mobiliário urbano paulistano porque a mídia exterior quase foi exterminada sob alegação de poluição visual. É importante deixar claro que os excessos da propaganda devem ser intensamente reprimidos, porém não se pode matar o doente para acabar com a doença como alguns estadistas tentaram fazer no passado recente.

A mídia exterior pode ser formosa, simpática, funcional e ainda informar, esclarecer e ajudar o cidadão a decidir melhor, sem falar é claro, que se trata de uma peça arquitetônica para contemplar ou mesmo criticar como muito gente o fez ou o faz com as obras de Niemeyer.

Artigo encaminhado por Paulo Sérgio Pires, publicitário, jornalista e professor de Comunicação
Redação AdNews

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