
E quando se cria uma mídia, ainda mais no ecossistema digital que habitamos, é preciso que se pense em como ganhar enormes volumes de dinheiro com aquilo. E, no final do ano passado, o Facebook arquitetou uma manobra que gerou críticas por todo o mundo. Ele virou uma chave e, de uma hora para outra, apenas uma pequena fração de usuários passou a enxergar os posts que uma marca publicava em sua fanpage. Há quem diga que míseros 16% de nossos “curtidores” veem o que nossa marca publica. Quer que mais usuários (ou “likers”) visualizem uma publicação de uma promoção, ou foto ou frase do dia? É muito simples? Pague!
Vou usar uma analogia terrível aqui nesse texto, mas é exatamente assim que enxergo essa polêmica manobra do judeu neo-liberal Zuckerberg. Ele fez o papel de um traficante que tenta viciar seus usuários com um baseadinho grátis e vai viciando e vai oferecendo drogas mais leves de forma gratuita. Depois que o usuário está devidamente viciado, o traficante aparece com drogas mais potentes, mais atraentes, que dão mais barato, e não cobra pouco por isso. E guardada as proporções dessa triste analogia que fiz, foi exatamente assim que muitas marcas se sentiram. Começam a pagar e a investir alto para poder conversar com um número cada vez maior de fãs.
Nesse sentido, as marcas começaram a se questionar: por que colocar uma grande quantidade de energia para a construção de uma presença online consistente e sedutora no Facebook, se isso não atinge 100% de nossos fãs? E as taxas cobradas pelo Facebook não são baratas. O que nos conforta é que vivemos num capitalismo livre. Isso não é extorsão de dinheiro, é apenas capitalismo. Um capitalismo feroz, mas é assim que a banda toca hoje. Não existe almoço grátis. Eles estão certos e escorados em uma simples lógica de livre mercado. Do ponto de vista de um CEO ou de um diretor de marketing de uma grande empresa, esse é um grande dilema. Investir? Quanto investir? Como mensurar? Dezenas de questionamentos como esses são feitos nas mesas de reuniões nesse exato instante que você lê esse meu despretensioso texto.
O curioso dessa história é que não foram apenas as chamadas "páginas de fãs" que sofreram com essa mudança, pois começamos a perceber que as nossas publicações em páginas de perfis (de usuários individuais do Facebook, gente como a gente) também não estavam sendo vistas por 100% de nossos amigos. Sim, isso mesmo, eu, como o meu perfil pessoal, posso pagar e também promover meus posts. Basta dar o número de cartão de crédito que os likes se multiplicam. Vemos aqui uma intenção clara do Facebook em induzir que as pessoas se enxerguem como marcas. E ao analisarmos o comportamento online de marcas nessas plataformas, percebemos que algumas delas também se humanizam, se personificam, justamente para ir atrás do tão almejado polegar pra cima de seu consumidor-fã.
A marca Ponto Frio é um clássico exemplo nesse sentido, que criou um pinguim para tentar humanizar a marca. Com uma certa dose de bom humor, a marca tenta se aproximar cada vez mais com seus usuários. A estratégia é ousada. O problema é que esse tom de comunicação da marca Ponto Frio nas redes sociais destoa completamente dos demais pontos de contato da marca, como, por exemplo, o 0800, a propaganda, a postura de um vendedor da loja etc. Dessa forma, a marca não somente não constrói marca, mas constrói, sim, para o líder de categoria. As marcas tentando se humanizar e as pessoas tentando se transformar em marca.
Pessoalmente, como um blogueiro (blogdohiller.blogspot.com), eu jogo o jogo e dou dinheiro para o Facebook no sentido de promover os meus textos, cursos, debates sobre branding e demais projetos que promovo. Vejo como um acordo de reciprocidade nos dois sentidos, porque eu divulgo a minha marca (meu blog) no Facebook e ele reforça a percepção da marca Facebook por meio de widgets de destaque em meu blog. Mesmo assim, estou quebrando a cabeça e tentando achar outras maneiras de direcionar o tráfego para o meu blog. Enquanto isso, vou utilizando meu Twitter (twitter.com/MarcosHiller) que ainda não virou essa chave (se virou, ainda não percebi) e o Google+, que come pelas beiradas. Com essa forma feroz de ganhar dinheiro, Mark Zuckerberg está matando as presenças online de nossas marcas? É uma boa pergunta.
Por Marcos Hiller, Coordenador do MBA em Marketing, Consumo e Mídia Online da Trevisan Escola de Negócios. Publicado originalmente no Administradores.
Redação AdNews