O desenvolvimento sustentável necessária e suficientemente abarca as componentes sociais, ambientais e econômicas do desenvolvimento. É um conceito que tem um imperativo: as atividades produtivas, industriais, comerciais, financeiras e de consumo devem considerar as externalidades ambientais e os resultados sociais de sua realização, em uma escala temporal ampliada que inclua as futuras gerações.
A sustentabilidade nas empresas refere-se à aplicação desse conceito à realidade dos negócios de forma progressivamente ampla. O cumprimento dos subconjuntos temáticos dessa agenda indicam se e como uma determinada empresa realmente incorpora em suas atividades essenciais aquele tripé do desenvolvimento. Mas como cumprir esse imperativo sem comprometer processos que, embora ambientalmente impactantes em variados graus, envolvem economias e mercados importantes e são ainda imprescindíveis para o crescimento econômico e o funcionamento das sociedades?
No âmbito das empresas, a gestão das emissões de gases de efeito estufa (GEE) é uma componente bastante tangível dessa agenda. Muitas empresas com políticas estruturadas de sustentabilidade mensuram suas emissões e as publicam nos inventários corporativos de emissões. Esses inventários conferem transparência e prestação de contas para os acionistas, consumidores, usuários e clientes da empresa. É também uma ferramenta de gestão interna que traz a oportunidade de melhorar processos e inovar tecnologicamente a fim de reduzir a intensidade carbônica de produtos e serviços, promovendo maior eficiência operacional e financeira. Enfim, é um processo que tende a ser virtuoso para a cadeia de valor de um produto ou serviço e, no longo prazo, para a economia.
Contudo, há muito que fazer na agenda da sustentabilidade nas empresas, a despeito do crescente número de inventários publicados, até que as premissas que definem a sustentabilidade estejam plenamente absorvidas. Isto é, até que os negócios dessas empresas resultem em ganhos compartilhados para acionistas e consumidores, para a sociedade como um todo e para os ecossistemas naturais que os suportam. Ademais, é preciso ir além do baixo carbono e incluir outros itens da agenda da sustentabilidade.
Nesse sentido, a gestão voluntária de emissões é um excelente começo. Na ótica da eficiência, é uma postura que visa a manter o grau de competitividade da empresa. Em termos ambientais e sociais, é uma precaução diante das mudanças climáticas globais, às quais o sistema produtivo e o ambiente de negócios não estão imunes.
Todavia, há no Brasil um quadro regulatório bem delineado e que será abrangente setorial e geograficamente, elevando o patamar da conformidade ambiental. Quem não aderiu voluntariamente terá de fazê-lo por força da regulação. Ocorre que a absoluta maioria das empresas simplesmente prefere ignorar a informação de que o Plano Indústria do Governo Federal e outros instrumentos regulatórios estaduais (começando por São Paulo e Rio de Janeiro) já estabeleceram a obrigatoriedade do inventário de emissões em distintos setores da indústria da transformação.
Independentemente da obrigação legal, mas em linha com ela, cabe às empresas em geral perceber a oportunidade de medir e precificar uma externalidade negativa cujo preço ainda é, em larga medida, pago por todos de maneira indistinta. Aliás, não fazer isso é negar a sustentabilidade, ao passo que uma política corporativa de sustentabilidade que desconsidera esses aspectos não é, a rigor, política de sustentabilidade. A oportunidade está em internalizar os custos ambientais e trabalhar para reduzi-los a fim de produzir resultados sociais, ambientais e econômicos positivos. E isso pode ser feito em benefício do negócio e do reforço das condições de competitividade da empresa, pois o setor privado é principal agente dessa mudança de patamar no relacionamento com os recursos naturais e na geração do crescimento econômico.
A viabilidade das empresas e o crescimento econômico não são incompatíveis com a operacionalização das premissas da sustentabilidade. É um desafio e tanto. Que tal começarmos a enfrentá-lo de acordo?
Silneiton Favero é consultor sênior em Sustentabilidade da Green Domus Desenvolvimento Sustentável Ltda.
Redação AdNews